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Como o fim de vistos a alunos estrangeiros afeta economia e ciência dos EUA

O Harvard Yard, na Universidade de Harvard, em Cambridge, nos EUA - Joseph Prezioso / AFP
O Harvard Yard, na Universidade de Harvard, em Cambridge, nos EUA Imagem: Joseph Prezioso / AFP

Luciana Rosa, em Nova York

28/05/2025 08h25

A suspensão da emissão de vistos para estudantes estrangeiros nos Estados Unidos pode representar o golpe mais severo já aplicado contra o sistema universitário americano. A medida, anunciada pela istração Trump nesta terça-feira (27), paralisa o ingresso de novos alunos internacionais, atingindo diretamente instituições tradicionais e prestigiadas, como Harvard. Além de prejudicar milhares de estudantes ? incluindo brasileiros ?, a decisão ameaça a economia local e compromete o desenvolvimento científico do país.

A suspensão da emissão de vistos para estudantes estrangeiros nos Estados Unidos pode representar o golpe mais severo já aplicado contra o sistema universitário norte-americano. A medida, anunciada pela istração Trump nesta terça-feira (27), paralisa o ingresso de novos alunos internacionais, atingindo diretamente instituições tradicionais e prestigiadas, como Harvard. Além de prejudicar milhares de estudantes — incluindo brasileiros —, a decisão ameaça a economia local e compromete o desenvolvimento científico do país.

O que está acontecendo com os vistos para estudantes estrangeiros?

Na última terça-feira (27), o governo dos Estados Unidos anunciou a suspensão imediata das entrevistas para concessão de vistos nas categorias F, M e J — que abrangem estudantes universitários, técnicos e intercambistas — em todas as embaixadas e consulados americanos no mundo. A medida gera forte impacto no meio acadêmico internacional.

De acordo com um memorando do Departamento de Estado obtido pelo site Politico, a suspensão faz parte da implementação de um novo processo de verificação, que inclui uma análise detalhada das redes sociais dos candidatos a vistos. Em outras palavras, o governo quer checar o conteúdo publicado pelos estudantes nas redes antes de conceder a permissão para entrar nos EUA.

O documento, assinado pelo secretário de Estado Marco Rubio, determina que, com efeito imediato, não sejam agendadas novas entrevistas para os vistos nas categorias citadas. As entrevistas previamente marcadas ainda ocorrem, mas não há previsão para a retomada dos agendamentos.

Qual influência do conflito entre o governo Trump e Harvard na suspensão?

Essa decisão faz parte de um conflito mais amplo entre a istração Trump e a Universidade Harvard, que ganhou força recentemente. Poucos dias antes da suspensão dos vistos, o governo revogou a autorização da universidade para itir estudantes estrangeiros.

Segundo uma carta assinada por Kristi Noem, secretária do Departamento de Segurança Interna, Harvard não poderá mais aceitar alunos internacionais enquanto a investigação em curso permanece aberta. O governo acusa a universidade de incentivar o antissemitismo e atividades ligadas ao terrorismo no campus.

Essa ofensiva tem consequências econômicas significativas: o governo já congelou mais de 3,2 bilhões de dólares em bolsas e contratos federais destinados à universidade e ameaça até a retirada de sua isenção fiscal.

Qual o impacto para os estudantes brasileiros?

O Brasil é hoje um dos maiores exportadores de estudantes para os EUA, ocupando o 9º lugar no ranking mundial segundo o relatório Open Doors 2024, realizado pelo Departamento de Estado americano. Atualmente, cerca de 16.877 brasileiros estão matriculados em instituições norte-americanas — número que cresceu em relação a 2023.

Esses estudantes que já estão matriculados não devem ser imediatamente afetados pela suspensão dos vistos. Porém, quem está na fase de solicitação do visto, ou pretendia começar os estudos ainda este ano, terá seus planos interrompidos por tempo indeterminado.

É importante destacar que a medida não atinge apenas estudantes universitários. Vistos para programas de curta duração, intercâmbios culturais e cursos de idiomas também estão suspensos, afetando uma gama ainda maior de jovens brasileiros.

Além do congelamento, quais outras sanções foram impostas a Harvard?

Além do congelamento da emissão de vistos, o governo Trump anunciou um corte severo nos contratos federais com Harvard, cancelando acordos com nove agências governamentais, que somam aproximadamente US$ 100 milhões.

Uma carta da istração de Serviços Gerais dos EUA (GSA), enviada às agências federais, ordena o encerramento imediato desses contratos e orienta a busca por fornecedores alternativos.

Essa medida foi descrita por um funcionário da Casa Branca como uma "ruptura completa" da histórica relação comercial entre o governo e Harvard, que se estende por décadas.

Desde o mês ado, o governo já havia congelado cerca de US$ 3,2 bilhões em bolsas e contratos ligados à universidade, além de tentar bloquear o ingresso de estudantes internacionais.

No início de maio, quando o governo solicitou formalmente à universidade dados detalhados sobre seus estudantes estrangeiros, Harvard respondeu se apoiando na Primeira Emenda da Constituição dos EUA, que garante a liberdade de expressão. Além disso, a universidade afirmou que já entregou todos os dados exigidos por lei e qualificou a pressão do governo como uma tentativa de interferência indevida, que visa alterar o conteúdo dos cursos e o perfil do corpo docente.

A secretária de Segurança Interna, Kristi Noem, ampliou a solicitação para incluir vídeos que mostrem estudantes estrangeiros participando de protestos ou atividades ilegais dentro, ou fora do campus.

Especialistas em privacidade alertam que, embora o programa federal de vistos exija que mudanças no status acadêmico ou ações disciplinares graves sejam informadas, a lei proíbe normalmente o compartilhamento de dados estudantis sem ordem judicial.

Quais outras universidades também foram atingidas pela ofensiva de Trump?

A ofensiva contra Harvard faz parte de um plano mais amplo do governo Trump para "reorganizar" o ensino superior nos EUA, visto por ele como dominado pelo que chama de "ideologia woke" (combater um termo que engloba políticas de diversidade, questões de gênero, e manifestações estudantis, incluindo protestos contra o antissemitismo) hostil aos conservadores.

Universidades como Columbia, NYU, Johns Hopkins e Carnegie Mellon também estão na mira, por sua alta proporção de estudantes estrangeiros. Columbia, por exemplo, teve cerca de 400 milhões de dólares em fundos federais congelados, e ativistas foram detidos no campus.

O que antes era visto como sinal de prestígio internacional ou a ser interpretado pelo governo como vulnerabilidade.

Como isso afeta a comunidade acadêmica americana?

A suspensão dos vistos para estudantes estrangeiros tem impacto que vai muito além do prejuízo aos próprios estudantes. A educação superior é um dos principais instrumentos do soft power dos EUA e gera mais de U$ 43 bilhões em receita anual para a economia americana.

Mais de 1,1 milhão de estudantes internacionais circularam pelo país durante o ano letivo de 2023-2024, movimentando não só as universidades, mas também o mercado local — com gastos em moradia, alimentação, transporte e lazer.

Além disso, os estudantes estrangeiros costumam pagar mensalidades bem mais altas do que os americanos, que frequentemente contam com bolsas e descontos por serem residentes. Em muitos casos, a receita gerada por um estudante internacional equivale ao valor pago por um aluno americano e meio.

Portanto, a redução na entrada de estudantes estrangeiros pode afetar diretamente a sustentabilidade financeira das universidades e prejudicar o o dos estudantes americanos, que têm suas mensalidades subsidiadas por essa receita extra.

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