EUA não vão atuar contra o Brasil por pressão de Eduardo, diz Bolsonaro
Em depoimento à Polícia Federal na última quinta-feira (5), o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) disse acreditar que os Estados Unidos não vão atuar contra autoridades do Brasil por pressão de seu filho deputado, Eduardo, ou de outras pessoas.
O inquérito apura se o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) atua nos Estados Unidos de forma ilegal para perseguir autoridades brasileiras e forçar sanções ao país.
O que aconteceu
Bolsonaro disse aos policiais que nenhuma pessoa poderia influenciar os norte-americanos a agir contra o Brasil. Segundo o registro do depoimento, o ex-presidente afirmou que "os EUA não aplicariam sanções por lobby de terceiros".
Mas, em 14 e em 30 de maio, o ex-presidente insinuou que Eduardo teria esse poder. Na primeira ocasião, afirmou que o filho "está sem salário e fazendo o seu trabalho de interlocução com autoridades no exterior". "O que queremos é garantir a nossa democracia, não queremos um Judiciário parcial", afirmou em 14 de maio. Depois, no dia 30, afirmou: "Para mim, [Eduardo é] um homem que abandonou tudo aqui para lutar por nós do lado de fora". O ex-presidente continuou: "Aqueles que lutam por vocês são os mais perseguidos. Nós venceremos".
Durante o depoimento na última quinta, Bolsonaro disse que não orienta as ações do filho. "[Ele afimou] que não auxilia ou determina a Eduardo Bolsonaro qualquer tipo de ação nos Estados Unidos", de acordo com o registro do depoimento. Em 14 de maio, Bolsonaro havia dito sobre o filho: "Nós conversamos quase todos os dias, mas são diálogos reservados".
Bolsonaro disse que conversou com ao menos uma autoridade norte-americana. Ele não revelou o conteúdo da conversa, mas garantiu que não atua por sanções contra seu próprio país nem contra magistrados como o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes — relator da ação penal em que ele responde pelo crime de golpe de Estado. "[O ex-presidente] esclarece que recebeu o conselheiro sênior do Departamento de Estado dos Estados Unidos para o Hemisfério Ocidental, Ricardo Pita, no dia 6 de maio de 2025" para "uma conversa de teor reservado", segundo o registro do depoimento.
O ex-presidente disse no depoimento não ter tratado com Eduardo nem com ninguém de sanções a autoridades brasileiras. "As ações de Eduardo Bolsonaro não buscam interferir na situação jurídica do declarante", afirmou, segundo o registro do depoimento. Jair Bolsonaro negou, ainda, ter atuado para pressionar americanos a aplicar a Lei Magnitsky contra brasileiros. Essa legislação faz uma série de restrições a estrangeiros, impedindo que tenham contas bancárias e propriedades nos EUA, por exemplo.
Bolsonaro recebeu R$ 1 milhão de sanfoneiro
No depoimento, Bolsonaro disse que mandou R$ 2 milhões em 13 de maio para Eduardo Bolsonaro se manter nos EUA. Para isso, usou uma poupança de R$ 17 milhões em doações que recebeu em 2023 para a eventualidade de ter que pagar multas em processos por descumprir normas sanitárias durante a pandemia de covid-19.
Bolsonaro ainda recebeu mais R$ 1 milhão para arcar com essa eventual despesa de uma outra doação. O ex-presidente disse que conversou com seu ex-ministro do Turismo, o sanfoneiro Gilson Machado, sobre o caso, e Machado fez mais uma campanha de arrecadação de dinheiro sem que fosse solicitado. O ex-ministro transferiu R$ 1 milhão para a conta de Bolsonaro dias depois de o pai mandar dinheiro para o filho nos EUA.
O ex-presidente também negou ter falado ou enviado dinheiro à deputada fugitiva Carla Zambelli (PL-SP). Zambelli foi condenada a 10 anos de cadeia por invadir os sistemas de controle de mandados de prisão do CNJ (Conselho Nacional de Justiça).