Baptista Jr.: GLO de Bolsonaro era distinta das que se cumpriam desde 1992
O brigadeiro Carlos Almeida de Baptista Junior, comandante da Aeronáutica no fim do governo de Jair Bolsonaro, afirmou em depoimento no STF (Supremo Tribunal Federal) que a operação de GLO (Garantia da Lei e da Ordem) discutida após as eleições de 2022 tinha um formato diferente daquele que ele se acostumara a ver como militar e tinha como objetivo impedir a posse do recém-eleito Luiz Inácio Lula da Silva.
O que aconteceu
"Eu comecei pessoalmente a entender que aquela garantia da lei e da ordem que nós estávamos abordando não era o que eu estava acostumado a ver as Forças Armadas cumprirem desde 1992", afirmou Brigadeiro. No depoimento, ele relata reuniões no Planalto em novembro de 2022 nas quais o tema foi debatido.
Baptista Jr. explicou que a GLO normalmente é utilizada em situações pontuais, para resolver problemas localizados. Mas ele percebeu, nas reuniões no fim do governo anterior, que o instrumento estava sendo sugerido com outro objetivo.
Situação deixou militares "desconfortáveis", segundo Baptista. O ex-chefe da FAB relatou que a sensação era compartilhada por ele, pelo general Freire Gomes (comandante do Exército à época) e pelo ministro Paulo Sérgio (Defesa). Diante do quadro, os três sugeriram a Jair Bolsonaro (PL) que convocasse o ministro Anderson Torres (Justiça) e os presidentes da Câmara dos Deputados e do Senado para as reuniões.
Natureza da GLO em debate deixou militar em dúvida. A partir de um determinado ponto, o brigadeiro afirmou que o alvo da ação seria agradar aos caminhoneiros e aos acampamentos que reuniam apoiadores de Bolsonaro inconformados com o resultado da eleição ou se a operação visava "outros objetivos".
Com o tempo, dúvida de Baptista deu lugar à certeza de que participantes das reuniões tramavam golpe. "A partir de um momento, eu comecei a achar que o objetivo de qualquer medida dessa de exceção era, sim, para não haver a assunção pelo presidente que foi eleito", disse ele ao STF, afirmando que o objetivo era que Lula não tomasse posse em janeiro de 2023.
Ao perceber conspiração em curso, brigadeiro afirmou ter se afastado de reuniões. Ao STF, ele informou que não participou de nenhum encontro no Planalto em dezembro de 2022.