Harvard cede imagens de escravizados usadas para 'provar' teoria racista no século 19

Cento e setenta e cinco anos depois que um de seus professores forçou negros escravizados a serem fotografados para provar uma teoria racista, Harvard chegou a um acordo com uma descendente para ceder os daguerreótipos a um museu dedicado à história da escravidão.
Depois de uma ação judicial movida em 2019 por Tamara Lanier, uma suposta descendente de dois indivíduos fotografados, a famosa universidade concordou em ceder a totalidade das imagens, consideradas as primeiras fotografias conhecidas de pessoas escravizadas.
Elas serão exibidas no Museu Internacional Afro-Americano da Carolina do Sul, anunciou um advogado da demandante nesta quarta-feira (28).
As imagens foram capturadas no inverno de 1850 na Carolina do Sul pelo professor Louis Agassiz, que pretendia sustentar a teoria do poligenismo, segundo a qual africanos e afro-americanos são inferiores aos brancos e que era usada para justificar tanto a escravidão quanto a segregação.
As imagens mostram Papa Renty, o suposto tataravô de Lanier, que foi levado a um estúdio de fotografia, despido e fotografado de todos os ângulos. Ao lado dele, sua filha Delia foi despida da cintura para cima e forçada a posar para fotos.
"Harvard desempenhou um papel no capítulo mais sombrio da história americana. Este é um pequeno o na direção certa para reconhecer plenamente essa história e trabalhar para corrigi-la", disse Lanier em uma declaração de seu advogado, Ben Crump, especialista em direitos humanos.
No processo, Lanier alegou que Harvard havia "se beneficiado indevidamente das imagens de seus ancestrais, usando-as para fins publicitários e comerciais".
Os "daguerreótipos" — precursores da fotografia moderna — haviam permanecido até agora em posse exclusiva de Harvard, no Museu Peabody de Arqueologia e Etnologia.
Ambas as partes chegaram a um acordo financeiro não divulgado.
"Desde que os negros foram trazidos acorrentados para este país, nossa dor e trauma têm sido explorados em benefício do capitalismo", disse Lanier no comunicado.
A universidade "há muito tempo desejava colocar os daguerreótipos em outro museu ou instituição pública para inseri-los em seu contexto adequado e aumentar o o a eles para todos os americanos", disse James Chisholm, diretor de relações com a imprensa da Faculdade de Artes e Ciências de Harvard, à qual pertence o Museu Peabody, em comunicado.
No entanto, ele especifica que a universidade não "foi capaz de estabelecer que [Lanier] era parente dos indivíduos que aparecem nos daguerreótipos", então descarta sua propriedade, como um tribunal de Massachusetts já decidiu em 2022.
Em abril de 2022, a universidade anunciou a criação de um fundo de US$ 100 milhões (R$ 569 milhões) para compensar os descendentes de escravizados que foram de sua propriedade em algum momento, após uma revisão interna do seu papel durante a escravidão.
Harvard está atualmente em rota de colisão com o governo Donald Trump por se recusar a cumprir suas diretrizes ideológicas, incluindo a eliminação de políticas que favorecem minorias.