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Marina deixa audiência após senador dizer que não a respeita como ministra

27/05/2025 13h52

(Reuters) - A ministra de Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, se retirou de uma audiência pública na Comissão de Infraestrutura do Senado após o senador Plínio Valério (PSDB-AM) afirmar que não a respeitava como ministra e se recusar a pedir desculpas pela afirmação.

A audiência, para a qual a ministra foi convidada para discutir a proposta de criação de uma unidade de conservação marinha na região da Margem Equatorial no Amapá, ficou tensa quando o senador Omar Aziz (PSD-AM) questionou Marina sobre o licenciamento do asfaltamento do trecho da rodovia BR-319, que liga Manaus a Porto Velho.

"A senhora está atrapalhando o desenvolvimento do país", disse Aziz, responsabilizando Marina pelo não licenciamento da obra na rodovia.

A ministra rebateu, afirmando que tornou-se "bode expiatório" da BR-319, lembrando que foi ministra do Meio Ambiente entre 2003 e 2008, retornando em 2023 ao governo e que, neste período, nenhum governo realizou o asfaltamento da BR-319.

Aziz afirmou então que a eventual aprovação de mudanças nas regras de licenciamento ambiental pelo Congresso seria resultado da atitude de Marina.

"Se essas coisas não andarem, ministra, a senhora também terá responsabilidade pelas coisas que nós aprovarmos aqui. Pode ter certeza. Pela intransigência, pela falta de vontade de dialogar, pela falta de vontade de negociar, de conversar, de agilizar. Nós iremos agilizar e vamos dar esse presente para o Brasil", disse o parlamentar.

Marina discordou, dizendo que os parlamentares eleitos pelo voto têm de se responsabilizar por suas decisões. Depois, quando já havia deixado a comissão, argumentou que tentar transferir a responsabilidade para ela "é não querer honrar o voto de quem os elegeu".

A ministra também teve atritos na audiência com o presidente da comissão, Marcos Rogério (PL-RO), após o senador limitar suas respostas em cinco minutos -- apesar de permitir que os questionamentos dos senadores fosse mais longo.

Rogério inicialmente não quis permitir que Marina respondesse a Aziz e, diante da insistência da ministra, mandou que ela se colocasse "em seu lugar", o que esquentou o clima na comissão, levando a ministra a bater boca com o presidente do colegiado.

Marina foi defendida apenas pela senadora Eliziane Gama (PSD-MA), que cobrou de Rogério o direito de resposta, e posteriormente pelo líder do PT na Casa, Rogério Carvalho (PT-SE), que se manifestou quando Valério disse que a respeitava como mulher, mas não como ministra.

"Quando alguém começa um debate dizendo que respeita a mulher, mas não respeita a ministra, isso não cabe em um debate institucional", disse Carvalho. "Se não houver respeito por parte do senador, vou pedir que a ministra se retire por falta de respeito."

Marina cobrou um pedido de desculpas de Valério, caso contrário se retiraria. Diante da recusa do parlamentar, a ministra deixou a sessão.

"Bem, eu sou ex-senadora, sou ministra de Meio Ambiente -- foi nessa condição que eu fui convidada -- ouvir um senador dizer que não me respeita como ministra, eu não poderia ter outra atitude", disse a ministra a jornalistas após deixar a comissão.

Pouco depois, após reunião com o presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), Marina disse aos jornalistas que sentiu-se atacada enquanto fazia seu trabalho.

"No governo anterior muitas jornalistas foram agredidas fazendo o seu trabalho, e eu me senti agredida fazendo o meu trabalho", afirmou.

Em nota, a ministra da Secretaria de Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, classificou de "inissível" o comportamento de Marcos Rogério e de Valério, e manifestou solidariedade à Marina.

"Totalmente ofensivos e desrespeitosos com a ministra, a mulher e a cidadã. Manifestamos repúdio aos agressores e total solidariedade do governo do presidente Lula à ministra Marina Silva", afirmou.

Antes da confusão, Marina assegurou aos senadores que a proposta de criação de uma unidade de conservação marinha no Amapá não inclui a área na chamada Margem Equatorial, onde a Petrobras pretende explorar petróleo em águas profundas, e tampouco será impeditivo para a instalação de infraestruturas necessárias para a exploração, como oleodutos, gasodutos e portos, desde que eles tenham o devido licenciamento ambiental.

(Reportagem de Eduardo Simões)

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