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Grupo de ajuda apoiado pelos EUA inicia operações em Gaza; ataques aéreos matam dezenas

26/05/2025 20h42

Por Alexander Cornwell e Nidal al-Mughrabi

JERUSALÉM/CAIRO (Reuters) - Uma fundação apoiada pelos Estados Unidos encarregada de fornecer ajuda a Gaza disse que iniciou suas operações nesta segunda-feira, entregando caminhões de alimentos em locais de distribuição designados após incerteza sobre a chegada de assistência a civis.

Endossado por Israel, mas rejeitado pela ONU, o plano de ajuda parecia estar se desenrolando em meio a ferozes ataques israelenses ao enclave, inclusive a um prédio escolar onde dezenas de palestinos foram mortos.

Palestinos não relataram nenhum sinal de entrega de ajuda no início desta segunda-feira, mas a Fundação Humanitária de Gaza (GHF, em inglês) confirmou mais tarde que a distribuição para os civis havia começado, um dia após seu chefe inesperadamente deixar o cargo.

"Mais caminhões com ajuda serão entregues amanhã, com o fluxo de ajuda aumentando a cada dia", disse a fundação em um comunicado.

Com uma escassez crítica de alimentos após um bloqueio de quase três meses, Washington afirma que está trabalhando para restaurar um cessar-fogo após mais de 19 meses de guerra, mas o progresso é difícil de ser alcançado.

Uma autoridade palestina disse que o Hamas havia concordado com uma proposta dos EUA para uma trégua e a libertação de 10 reféns israelenses, mas uma autoridade israelense descartou a proposta e a classificou de inaceitável, negando que tenha sido sugestão de Washington.

O enviado especial dos EUA, Steve Witkoff, rejeitou os relatos de que o Hamas havia concordado com sua proposta, dizendo à Reuters que o que ele viu é "completamente inaceitável".

Israel enfrenta um crescente protesto internacional neste mês, inclusive de aliados ocidentais, ao lançar uma nova ofensiva em Gaza, já amplamente destruída pelo bombardeio israelense e onde a população de 2 milhões de pessoas corre o risco de fome extrema.

A Alemanha, aliada próxima, disse que os recentes ataques de Israel a Gaza estavam causando um número de vítimas civis que não podia mais ser justificado como uma luta contra o Hamas, que desencadeou a guerra com seu ataque transfronteiriço a Israel em 7 de outubro de 2023.

Na semana ada, autoridades israelenses permitiram a entrada de ajuda no enclave palestino pela primeira vez desde março. Mas as poucas centenas de caminhões transportaram uma fração minúscula dos alimentos necessários.

O diretor-executivo da GHF, Jake Wood, anunciou sua renúncia no domingo, dizendo que a fundação não poderia aderir "aos princípios humanitários de humanidade, neutralidade, imparcialidade e independência".

A fundação registrada na Suíça disse nesta segunda-feira que nomeou John Acree como diretor-executivo interino, descrevendo-o como um "profissional humanitário sênior" com mais de duas décadas de experiência de campo em resposta a desastres e coordenação civil-militar.

A GHF foi duramente criticada pelas Nações Unidas, cujos funcionários afirmaram que os planos de distribuição de ajuda da empresa privada são insuficientes para alcançar os habitantes de Gaza.

A nova operação contará com quatro grandes centros de distribuição no sul de Gaza, que farão uma triagem das famílias para verificar envolvimento com os militantes do Hamas, possivelmente usando reconhecimento facial ou tecnologia biométrica, de acordo com autoridades de ajuda humanitária.

Mas muitos detalhes de como a operação funcionará permanecem inexplicados, e não ficou imediatamente claro se os grupos de ajuda que se recusaram a cooperar com a fundação ainda poderão enviar caminhões.

O Hamas condenou o novo sistema, dizendo que ele "substituiria a ordem pelo caos, aplicaria uma política de fome planejada aos civis palestinos e usaria os alimentos como arma em tempos de guerra".

Israel diz que o sistema tem como objetivo separar a ajuda do Hamas, acusado de roubar e usar alimentos para impor controle sobre a população, alegação rejeitada pelo Hamas, que diz proteger os comboios de ajuda de gangues de saqueadores armados.

"NENHUMA SEGURANÇA OU PROTEÇÃO"

Os ataques israelenses mataram pelo menos 45 pessoas nesta segunda-feira, segundo autoridades de saúde locais.

Na Cidade de Gaza, médicos disseram que 30 palestinos, incluindo mulheres e crianças deslocadas que buscavam abrigo em uma escola, foram mortos em um ataque aéreo. Imagens amplamente compartilhadas nas mídias sociais mostraram o que pareciam ser corpos severamente queimados sendo retirados dos escombros.

As Forças Armadas de Israel confirmaram que o alvo era a escola, alegando que o prédio estaria sendo usado como centro por militantes do Hamas e da Jihad Islâmica para planejar e organizar ataques.

Farah Nussair, que sobreviveu ao ataque, disse que "apenas os cansados" que precisavam de comida e água estavam na escola.

Ela acrescentou, com uma criança no colo: "Fugimos para o sul, eles nos bombardearam no sul. Voltamos para o norte, eles nos bombardearam no norte. Viemos para as escolas... Não há segurança nem proteção, nem nas escolas, nem nos hospitais, nem em lugar algum".

Os militares de Israel disseram que usaram armas de precisão, vigilância e outras medidas para reduzir o risco de ferir civis. Não foram fornecidas provas de que a escola estava sendo usada por militantes.

Outro ataque em uma casa em Jabalia, adjacente à Cidade de Gaza, matou pelo menos 15 outras pessoas, segundo os médicos.

A Suécia disse que convocaria o embaixador de Israel em Estocolmo sobre a situação da ajuda humanitária em Gaza.

Israel intensificou as operações militares no enclave no início de maio, dizendo que tenta eliminar as capacidades militares e de governo do Hamas e trazer de volta os reféns restantes.

A campanha, que, segundo Netanyahu, terminará com Israel no controle total de Gaza, comprimiu a população em uma zona cada vez mais estreita nas áreas costeiras e ao redor da cidade de Khan Younis, ao sul.

A campanha israelense, desencadeada após militantes islâmicos liderados pelo Hamas invadiram comunidades israelenses em outubro de 2023, matando cerca de 1.200 pessoas, devastou Gaza e expulsou quase todos os residentes de suas casas.

A ofensiva matou mais de 53.000 pessoas em Gaza, muitas delas civis, de acordo com as autoridades de saúde do país.

(Reportagem de Nidal Al Mughrabi e Mustafa Abu Ghaneyeh; Louise Breusch Rasmussen em Copenhague; James Mackenzie em Jerusalém; Ludwig Burger; Steve Holland em Washington)

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