Empreendedora investe em bebês reborn depois de burnout e fatura R$ 580 mil

Por trás da febre dos bebês reborn, há empreendedores como Karine Leal, 38 que largou a publicidade após um burnout para vender as bonecas e hoje fatura R$ 580 mil ao ano. Formada em marketing, ela deixou a carreira no mundo da publicidade após ar um processo de exaustão física e mental intensos e, para ocupar o tempo, entrou como parceira do marido, Alex Ventura, no negócio de bonecas reborn em 2023.
A Reborn Bebê nasceu em 2017, mas Alex já vendia bonecas desde 2015 para complementar a renda. Na época, a Reborn Bebê tinha apenas dois modelos de bonecas, hoje, são mais de 100 - entre eles estão os mais sofisticados e realísticos feito pelas artesãs, conhecidas como "cegonhas", e os modelos mais simples para o público infantil. No caso dos modelos mais realistas, a boneca é feita de silicone sólido para que possa lembrar a textura de um ser humano recém-nascido.
Só no ano ado, venderam 1.424 bonecas, ou quatro por dia, aproximadamente. A maior parte dos produtos é de bonecas para pronta-entrega. Mas oferecem produtos com um ticket médio maior, como as bonecas de silicone e as personalizadas. O tempo de fabricação de uma boneca mais realista pode ser de três meses.
Há mães que mandam as fotos dos filhos para serem reproduzidas nas bonecas. "Eu sou mãe, tenho um filho de quatro anos, e ter a oportunidade de eternizar a imagem bebê é muito bacana. Também temos casos que filhos entram em contato porque as avós moram longe, se sentem solitárias e com saudade dos netos, aí indicamos os modelos de silicone ou os personalizados", comenta Karine.
Bonecas para todos os públicos. As bonecas a pronta-entrega ainda são realistas, porém menos detalhadas ou feitas de produtos alternativos, como o cabelo sintético - e mais baratas. "As bonecas 'à pronta-entrega' são as peças que mais vendem, até pelo custo mais ível. As bonecas que são feitas pelas artesãs custam mais de R$ 1.000, podem chegar até a R$ 10 mil", explica.
O custo de importação de 300 bonecas varia de R$ 50 mil a R$ 60 mil. Por ser um produto sazonal, com o período entre o Dia das Criança e o Natal os meses de maior demanda, as importações são feitas a cada três meses, em média, até essas datas. Karine comenta que a Reborn Bebê sempre trabalha com estoque das peças menos complexas para esse tipo de demanda.
A maioria dos revendedores de bonecas reborn trabalham com importações. Em 2024, a balança comercial do segmento de brinquedos superou os US$ 334 milhões em importações, segundo a Abrinq (Associação Brasileira de Fabricantes de Brinquedos). Os países que mais exportam para o Brasil são China, Vietnã e México, respectivamente.
Os planos de expansão envolvem uma loja física e um marketplace especializado. Para os próximos meses, a Reborn Bebê estuda abrir a primeira unidade física em parceria com shoppings em cidades turísticas, onde há um fluxo de jovens e crianças ao longo do ano. Além disso, por possuir site próprio, a Reborn Bebê quer reforçar o canal como um marketplace proprietário. A empresa já tem quatro "cegonhas" parceiras. Na avaliação de Karine Leal, os marketplaces mais populares apresentam um sistema de operação agressivo que desvaloriza os produtos com maior qualidade.
Com a viralização de alguns vídeos sobre bebês reborn, a empresa viu as vendas caírem. Segundo Karine, as últimas três semanas, em que o tema viralizou nas redes sociais, foi possível notar a queda no tráfego do site da marca. Porém, ela espera fazer desse desafio um trampolim para uma nova empreitada: o marketing de influência.
Agora, a aposta é no uso terapêutico das bonecas. "Vou começar a botar mais a cara, gravar vídeos explicando as diferenças entre os bebês, gravar conteúdo para humanizar e direcionar. Depois dessa polêmica, nós vimos que é possível levar o lado terapêutico mais a sério", explica. A previsão é que o negócio cresça com parcerias com asilos, hospitais e ONGs.
Qual o mercado para os "brinquedos para adultos"?
Economia e natalidade entram na brincadeira. A queda no setor acontece por vários fatores, dentre os quais estão a perda do poder aquisitivo, a queda da taxa de natalidade e uma dificuldade das marcas em furar as barreiras. Em 2018, considerado como um período de explosão dos negócios de bebê reborn, o segmento total de bonecos representou 19,2%; em 2024, o percentual foi de 11%.
A exclusividade é o diferencial. "Esse é um produto que as pessoas não querem que seja massificado. Não querem que a minha boneca seja igual da outra pessoa. É um mercado que presa pela exclusividade, porque eu não quero ver uma cópia do meu filho andando por aí", explica a professora de economia comportamental da ESPM, Annaysa Salvador.
A aposta agora é nos brinquedos para adultos. Para que possam continuar rentáveis, grandes marcas de brinquedos, como a Lego, apostam no que o mercado ou a chamar de "kidults". São adultos que consomem produtos e conteúdos voltados ao público infantil. "Vemos isso acontecendo de uma maneira forte, por saber que é uma geração que muitas vezes, pela questão nostálgica ou por ter condições financeiras mais favoráveis, tem a vontade de ter aquele produto que ele não teve quando era criança", avalia a especialista.
Até 2027, o mercado global de brinquedos deverá crescer US$ 70,12 milhões. A previsão, da WGSN, propõe que os brinquedos colecionáveis estejam por trás desse crescimento, chegando ao valor de mercado de US$ 35,3 bilhões até 2032. Na Europa, os "kidults" movimentaram mais de R$ 630 bilhões em 2024 e os brinquedos considerados colecionáveis, ou "para adultos", representam 23% dos produtos vendidos, segundo levantamento da Circana.