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Estímulos do governo põem em xeque alta dos juros para conter a inflação

Incentivos ao consumo inibem efeito de elevação da Selic - Getty Images
Incentivos ao consumo inibem efeito de elevação da Selic Imagem: Getty Images
do UOL

Alexandre Novais Garcia

Do UOL, em São Paulo (SP)

31/05/2025 05h30

A trajetória que elevou a taxa básica de juros ao maior patamar em quase 20 anos tem demorado para surtir os efeitos desejados, conforme mostra a alta de 1,4% do PIB (Produto Interno Bruto) nacional no primeiro trimestre.

Divergência entre governo e BC

Por um lado, há esforço do governo para manter a economia aquecida. Por outro, o BC (Banco Central) tenta conter a inflação com juros altos.

Divergências deixarão os juros em patamar elevado por mais tempo. Thiago Moraes Moreira, professor de economia do Ibmec, afirma que a Selic é prejudicial para o crescimento. "Nenhuma economia consegue manter um crescimento com o juro real em quase 10%. Manter os juros mais altos por mais tempo refletirá no maior endividamento das famílias, das empresas e do próprio governo", destaca ele.

Mercado financeiro aposta em queda da taxa Selic apenas em 2026. Com a queda de braço e a desarmonia entre o governo e o BC, as perspectivas recentes apontam que o arrefecimento dos juros básicos aconteça somente na primeira reunião do Copom (Comitê de Política Monetária) do próximo ano.

O que aconteceu

PIB cresceu pela 15ª vez seguida na comparação com o trimestre anterior. A soma de todos os bens e serviços finais produzidos no país avançou 1,4% em relação ao último trimestre do ano ado. Tal movimento confirma as expectativas do mercado financeiro e representa, ao lado do resultado de 2023, a maior variação na base de comparação para o período desde 2010 (+2,1%).

A Selic tenta frear o consumo e o aquecimento da economia. Com a elevação da taxa básica de juros a 14,75% ao ano, o maior nível desde 2006, o dinheiro fica mais caro e isso tendem a desestimular o consumo como alternativa para conter a inflação.

Agro vai bem, mas indústria e serviços patinam. Enquanto a disparada de 12,2% da agropecuária serviu de impulso para o desempenho econômico nos três primeiros meses deste ano, a produção industrial encolheu 0,1% e o volume de serviços prestados cresceu 0,3%. Há um ano, os avanços em relação ao quarto trimestre de 2023 foram de, respectivamente, 3,2%, 0,6% e 1,7%.

"O setor industrial está sendo negativamente afetado pela política monetária restritiva", reforça Rebeca Palis, coordenadora do IBGE. A indústria de transformação (-1%) e da construção (-0,8%) "são dois setores bastante sensíveis à política monetária", afirma Luis Otávio Leal, economista-chefe da G5 Partners.

Equipe econômica reconhece que a economia nacional perderá força. "Para a segunda metade do ano, a perspectiva é de que o ritmo de crescimento se mantenha próximo à estabilidade na margem, repercutindo os efeitos contracionistas da política monetária", prevê a SPE (Secretaria de Política Econômica), em nota.

Consumo permanece em alta

Ações do governo mantêm a tração da economia brasileira. A adoção de um novo modelo de crédito consignado para os trabalhadores formais e o pagamento de precatórios em julho são observados como novos impulsos para manter o consumo em um nível elevado. "Esses movimentos tendem a estimular a demanda interna, o que pode gerar um crescimento do PIB até acima do inicialmente projetado", diz Antonio Ricciardi, economista do Banco Daycoval.

Por isso, falta harmonia entre o BC e o Executivo. É o que diz Thiago Moraes Moreira, professor de economia do Ibmec, explica que o cenário ainda depende de uma maior . "Se por um lado os juros seguram a economia, você tem uma política fiscal bastante ativa para estimular o crédito e o consumo", avalia ele.

Consumo das das famílias cresceu 1% no primeiro trimestre, após recuar 0,9% no quarto trimestre do ano ado. "O mercado de trabalho aquecido e os estímulos do governo seguem impulsionando o consumo, mas, pelo lado da oferta, ficam claras as restrições e, apesar do aumento da importação, a inflação segue persistente", observa Rafaela Vitoria, economista-chefe do Inter.

A desaceleração da demanda é importante neste momento para que os juros caiam e o crescimento da oferta, além do agro, possa retomar.
Rafaela Vitoria, economista-chefe do Inter

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