Juíza suspende veto de Trump a estudantes estrangeiros em Harvard
Uma juíza dos Estados Unidos bloqueou temporariamente nesta sexta-feira a decisão do governo Donald Trump de impedir a Universidade de Harvard de matricular estudantes estrangeiros, por considerar a medida inconstitucional.
A secretária de Segurança Interior, Kristi Noem, revogou ontem o poder de Harvard de itir alunos estrangeiros, ameaçando o futuro de milhares de estudantes e os recursos valiosos que eles injetam na instituição. Mais de um quarto dos alunos de Harvard são estrangeiros.
A universidade entrou na Justiça contra a medida, e a juíza Allison Burroughs, do tribunal federal de Massachusetts, proibiu hoje "o governo Trump de implementar a revogação da certificação Sevis". A decisão do governo foi suspensa até uma audiência judicial preliminar no próximo dia 29.
Trump está furioso com Harvard, de onde saíram 162 ganhadores do prêmio Nobel, por recusar sua exigência de que a universidade se submeta à supervisão de issões e contratações. Para o presidente, a universidade é foco de antissemitismo e ideologia liberal progressista.
O governo já ameaçou revisar US$ 9 bilhões (quase R$ 51 bilhões) em financiamento governamental para Harvard e congelou uma primeira parcela de US$ 2,2 bilhões (R$ 12,4 bilhões) em subsídios e US$ 60 milhões (R$ 339 milhões) em contratos oficiais, além de ter deportado uma pesquisadora da Faculdade de Medicina.
Esse é "o mais recente ato do governo em clara retaliação ao exercício dos direitos de Harvard, amparados pela Primeira Emenda, ao rejeitar as exigências do governo de controlar a governança, o currículo e a 'ideologia' de seu corpo docente e seus estudantes", afirma a universidade em sua ação. A instituição apelou à Justiça para que "detenha as ações arbitrárias, caprichosas, ilegais e inconstitucionais do governo".
A perda de alunos estrangeiros pode custar caro para a instituição, que cobra dezenas de milhares de dólares por ano por seus cursos.
- 'Juíza comunista' -
O vice-chefe de gabinete da Casa Branca, Stephen Miller, questionou a decisão da Justiça: "Uma juíza comunista criou um direito constitucional para que estrangeiros sejam itidos em universidades americanas financiadas com dólares dos impostos americanos."
O veto se deu mediante a revogação de Harvard da certificação do programa Sevis, que permite a estrangeiros estudar nos Estados Unidos. A medida impediria a universidade de matricular estrangeiros com visto de não imigrante F ou J para o ano letivo 2025-2026.
O presidente de Harvard, Alan Garber, condenou hoje o que chamou de "ação ilegal e injustificada" do governo americano. "Coloca em perigo o futuro de milhares de estudantes e acadêmicos de Harvard e funciona como advertência para inúmeras pessoas da universidade de todo o país que vieram aos Estados Unidos para continuar sua educação e realizar seus sonhos", declarou.
- Estudantes chineses -
Kristi Noem disse ontem que o governo "responsabiliza Harvard por fomentar a violência, o antissemitismo e a coordenação com o Partido Comunista Chinês em seu campus".
Os estudantes chineses representam mais de 20% das matrículas internacionais da universidade, segundo seus dados internos, e Pequim afirmou que a decisão "só prejudicará a imagem e a posição internacional dos Estados Unidos".
"A parte chinesa se opôs sistematicamente à politização da cooperação educacional", disse a porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Mao Ning.
Karl Molden, um aluno austríaco de Harvard, disse que solicitou a sua transferência para Oxford, no Reino Unido, com medo das medidas do governo americano. "É assustador e triste", disse ontem à AFP esse estudante de literatura clássica, 21, que considerou sua issão em Harvard o "maior privilégio" de sua vida.
Os líderes da seção de Harvard da Associação de Professores Universitários classificou a decisão de Trump como "a última de uma série de medidas abertamente autoritárias e retaliatórias contra a mais antiga instituição de ensino superior dos Estados Unidos".
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