Mourão diz que nunca foi apresentado a nenhuma minuta de estado de exceção
O senador Hamilton Mourão (Republicanos-RS) afirmou nesta tarde, em depoimento ao STF (Supremo Tribunal Federal), que não sabia das reuniões de Jair Bolsonaro com os comandantes das três Forças Armadas após a derrota em 2022 e que nunca participou de reuniões em que tenha sido tratada alguma minuta com proposta de estado de exceção.
O que aconteceu
Senador diz nunca ter sido chamado a reuniões. Questionado se havia sido convocado a participar de reunião com Bolsonaro e os comandantes das três Forças após o segundo turno para discutir propostas de estado de sítio ou de exceção, ele negou. "Não fui convocado para nenhuma reunião, assim como não tomei conhecimento de que alguma dessas reuniões estivessem ocorrendo", afirmou.
Mourão diz que soube das reuniões pelos inquéritos da PF. Segundo o senador, ele só tomou conhecimento dos encontros após eles terem sido revelados na investigação da PF (Polícia Federal) sobre a trama golpista.
Em todas essas oportunidades em que eu me encontrei com o presidente [Bolsonaro, após o segundo turno], em nenhum momento ele me mencionou qualquer medida que pudesse representar qualquer ruptura com o status quo.
Hamilton Mourão, senador, ex-vice-presidente e general da reserva
Mourão negou que tenha rasgado minuta em reunião com Bolsonaro. A PGR (Procuradoria-Geral da República) perguntou sobre uma mensagem encontrada no celular do ex-ajudante de ordens Mauro Cid que indica que ele teria conversado com o então presidente e alertado que "o Peru é logo ali", uma referência ao país vizinho em que havia recentemente tido um golpe de Estado.
Senador chama mensagem de 'fake news'. Ele classificou a mensagem encontrada no celular de Cid como "fake news". "Em absoluto, esse diálogo é mais um absurdo daqueles que circula na internet. Em nenhum momento fui apresentado a alguma minuta que seja de alguma medida de exceção, então obviamente esse texto é totalmente 'fake', vamos dizer assim"
Evitou chamar Cid de mentiroso. Na sequência, Gonet disse que Cid havia confirmado a reunião em uma mensagem para um interlocutor. Gonet questionou se Cid era mentiroso, mas Mourão negou. "Não posso dizer que era mentiroso ate porque não tive o a isso que ele disse."
Moraes perguntou sobre monitoramento de Mourão. Em uma prova, Cid e o coronel Marcelo Câmara falam sobre o monitoramento dele em caso de acontecer um encontro com o ministro do STF.
Nós dois sabemos que o senhor nunca veio a São Paulo se encontrar comigo. Gostaria de saber se o senhor à epoca ficou sabendo de um eventual monitoramento pro ordem do presidente Bolsonaro?
Moraes pergunta sobre monitoramento de Mourão
Não, não fiquei, ministro, e também nunca me preocupei com isso porque meus atos eram todos públicos, publicizados na agenda diariamente e qualquer deslocamento que eu fazia era pela FAB. Se eu precisasse me encontrar com o senhor, eu avisaria o presidente, não temos nada a esconder, não somos dois bandidos.
Mourão, em resposta ao questionamento
Na piscina no 8 de Janeiro. Mourão contou ainda que estava na piscina na casa dele, em Brasília, quandou soube do 8 de Janeiro. Ele recebeu um telefonema do filho, pedindo que ele ligasse a TV para se inteirar dos protestos e vandalismo.
Mourão integra as testemunhas de defesa em ação sobre golpe. Ele foi chamado para prestar depoimento na ação penal sobre tentativa de golpe envolvendo o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) como testemunha de defesa do também general da reserva Augusto Heleno, que à época das acusações era chefe do GSI (Gabinete de Segurança Institucional).
Atualmente senador, Mourão não foi denunciado pela PGR (Procuradoria-Geral da República). Também não foi citado como suspeito na investigação. Ex-vice-presidente, ele havia se afastado de Bolsonaro no final do mandato e não compôs a chapa na tentativa de reeleição de 2022, que acabou sendo derrotada por Lula (PT).
O militar já havia afirmado que a trama golpista apontada pela PF seria um "plano sem pé nem cabeça". Mourão reconheceu que uma ala das Forças Armadas discutiu o golpe em encontros que "não levaram a nenhuma ação". "Em tese, houve reuniões, mas não levaram a nenhuma ação", segundo afirmou em dezembro do ano ado em entrevista.