Por que ajuda humanitária não chega à população em Gaza

Após 11 semanas de bloqueio total, Israel liberou que 198 caminhões entrassem em Gaza esta semana, levando ajuda humanitária à população. O apoio, entretanto, ainda é escasso para abastecer os cerca de 2 milhões de palestinos.
O que aconteceu
198 caminhões atravessaram a agem de Kerem Shalom, no triângulo fronteiriço entre Egito, Israel e a Faixa de Gaza desde terça. Os caminhões transportavam ajuda humanitária, incluindo farinha, alimentos para bebês, equipamentos médicos e medicamentos.
Quantidade de caminhões cruzando a fronteira ainda é bem abaixo do necessário. Durante o cessar-fogo do início do ano, cerca de 600 caminhões com ajuda humanitária entravam na Faixa de Gaza todos os dias.
Há demora na entrega dos caminhões liberados. As equipes da ONU relatam que os primeiros caminhões do Programa Mundial de Alimentos só chegaram a Gaza na noite de ontem e entregaram farinha a algumas padarias.
As primeiras padarias puderam voltar a funcionar ontem. O Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) e a Organização Mundial da Saúde (OMS) estão contribuindo com alimentos especiais, vacinas e suprimentos cirúrgicos.
Conseguimos distribuir os primeiros suprimentos de ajuda em Gaza. Esse é um pequeno vislumbre de esperança, mas muito pouco em vista da necessidade. Centenas de caminhões seriam necessários todos os dias. Eles estão a postos, parados do outro lado da fronteira Martin Frick, chefe do Programa Mundial de Alimentos da ONU, à Deutsche Welle
Onde estão os suprimentos?
Caminhões estão se acumulando atrás das agens da fronteira da Faixa de Gaza. O Programa Mundial de Alimentos possui mais de 116 mil toneladas de alimentos no Egito, Jordânia e Israel, o suficiente para alimentar um milhão de pessoas por cerca de quatro meses. A UNRWA também possui quase 3 mil caminhões carregados prontos para partir quando houver uma autorização.
Apenas uma agem de fronteira está aberta para a entrada de ajuda. Além disso, na fronteira, a carga precisa ser transferida para outros caminhões. Durante o trajeto, os comboios também precisam ficar aguardando a liberação da coordenação militar israelense para que o transporte seja feito em segurança pela rota planejada.
O comboio permanece parado até que seja dada autorização. Assim, paletes de comida para bebês e farinha estão empilhadas, enquanto as cozinhas que distribuem sopa aos famintos no norte continuam esperando mantimentos.
Enquanto aguarda a chegada da ajuda, a população em Gaza paga até R$ 260 pelo quilo da farinha. À RFI, Teïma, moradora de Gaza, afirmou que o alimento em questão, além do preço elevado, estava infestado de insetos.
Consegui um pouco de amido de milho. Coloco uma colher em um copo d'água e dou para ela beber. Como não há mais pão, isso substitui a refeição Teïma
Por que o material está se acumulando?
Israel bloqueou a entrada de ajuda humanitária em Gaza no dia 2 de março. Em sua justificativa, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, afirmou que o Hamas estava saqueando os suprimentos.
Netanyahu autorizou a entrada de uma pequena quantidade de alimentos por razões diplomáticas. "Amigos de Israel disseram que não poderão continuar apoiando a guerra se imagens de 'fome em massa' forem divulgadas", afirmou.
Em Gaza, bombardeios, saques e estradas destruídas são um entrave para a circulação dos comboios. Sem diesel, a locomoção é difícil. Como resultado, até mesmo as poucas cargas autorizadas estão paradas nos depósitos, enquanto os preços do pão explodiram nesse meio tempo.
Quais as consequências para a população?
Mais de dois terços da população dependiam de ajuda alimentar externa, situação que se agravou após os bloqueios. De acordo com uma análise da FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura), 93% da população estava em uma situação de crise ou pior entre 1º de abril e 10 de maio, sendo que 12% estavam ando fome.
O território palestino precisa de cerca de 1.300 toneladas de alimentos todos os dias para fornecer a 2,2 milhões de pessoas uma média de 2.100 quilocalorias. Um caminhão de ajuda padrão comporta cerca de 25 toneladas. Assim, seriam necessários cerca de 50 a 60 caminhões por dia somente de alimentos.
(Com Deutsche Welle e RFI)