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Augusto Melo é afastado da presidência do Corinthians

26/05/2025 22h14

Augusto Melo foi afastado da presidência do Corinthians nesta segunda-feira.

O Conselho Deliberativo do clube se reuniu no Parque São Jorge e aprovou por ampla maioria o impeachment do mandatário por conta do escândalo envolvendo a casa de apostas VaideBet, antiga patrocinadora máster do Timão. Ao todo, 176 conselheiros votaram a favor da destituição, contra 57, além de um voto em branco. Sendo assim, Osmar Stabile, primeiro vice-presidente do Corinthians, assume o posto de forma temporária.

Ao todo, 236 conselheiros compareceram à reunião. Foram 234 votos e uma abstenção. Outro conselheiro assinou a lista, mas não votou.

O encontro teve como objetivo retomar a votação iniciada no último dia 20 de janeiro. Naquela oportunidade, em uma reunião longa de mais de quatro horas, marcada por tumulto, 126 conselheiros contra 114 votaram a favor da issibilidade do processo de destituição.

Augusto Melo e seus aliados tentaram, até os últimos instantes, suspender a votação desta segunda  através de medidas judiciais, mas não obtiveram sucesso. O rito no Conselho Deliberativo foi tranquilo e teve início com uma manifestação da Comissão de Ética e Disciplina do clube, seguido por um pronunciamento da defesa de Augusto. Depois votaram os conselheiros vitalícios do Timão e, posteriormente, os trienais, que decidiram pelo afastamento do presidente. Além dele, caem também todos os diretores estatutários - o executivo de futebol Fabinho Soldado, por ser um profissional remunerado, segue normalmente no cargo.

Antes mesmo da votação, Augusto Melo já reconheceu a derrota política em um pronunciamento à imprensa. Por entender que possuía a minoria no Conselho, ele se despediu com um "até breve", reforçou que não pedirá renúncia e garantiu que brigará até o fim pelo posto.

Augusto, agora, permanece afastado de suas funções até a divulgação do resultado final da Assembleia Geral, que é a última instância do processo de impeachment, com a participação dos associados do clube. Se os sócios endossarem que ele deve deixar o cargo, o mandatário será definitivamente destituído.

A data Assembleia ainda será definida por Romeu Tuma Júnior, presidente do CD. Ele tem cinco dias para convocar a reunião, que deve ser realizada em um prazo de até 60 dias.

ENTENDA OS MOTIVOS

No dia 12 de agosto de 2024, a Comissão de Justiça do Corinthians entregou um relatório para o Conselho Deliberativo a respeito de investigações sobre alguns temas que envolvem a gestão de Augusto, como as negociações com a VaideBet (ex-patrocinadora máster) e a Gazin (empresa de colchões que tem espaço no uniforme de treino).

Posteriormente, Augusto e pessoas que são ou foram ligadas à gestão foram ouvidas pela Comissão de Ética. Além do presidente, Armando Mendonça (segundo vice-presidente), Rozallah Santoro (ex-diretor financeiro), Yun Ki Lee (ex-diretor jurídico), Fernando Perino (ex-integrante do departamento jurídico), Marcelo Mariano (diretor istrativo) e Rubens Gomes (ex-diretor de futebol) foram investigados internamente.

Augusto entregou sua defesa à Comissão de Ética no final de setembro. No dia 26 de agosto, de forma paralela à investigação, um grupo de conselheiros enviou ao Conselho um requerimento que solicita a destituição de Melo.

O documento, de autoria do "Movimento Reconstrução SC", conteve mais de 50 s, número mínimo para que a solicitação fosse apreciada pelo presidente do CD.

O documento pede "tramitação sucinta" e se apega, principalmente, ao Artigo 106, "b" e "d", do Estatuto do clube, além da Lei 14.597/23, referente a nova Lei Geral do Esporte, que dispõe sobre crimes de "Lavagem" ou ocultação de bens.

Art. 106 - São motivos para requerer a destituição do Presidente e/ou dos Vices:

b) ter ele acarretado, por ação ou omissão, prejuízo considerável ao patrimônio ou à imagem do Corinthians.

d) ter ele infringido, por ação ou omissão, expressa norma estatutária.

Em 19 páginas, que detalham acontecimentos recentes promovidos pela atual gestão, o requerimento se apoia em fundamentos que objetivam apontar eventuais problemas e condutas temerárias da gestão após avaliação dos seguintes casos:

-"Laranja" na intermediação da VaideBet.

-Depoimento de Cassundé à Polícia, refutando ter feito intermediação.

-Debandada de dirigentes, perda do patrocínio e prejuízo moral.

-Depoimento de Armando Mendonça à Polícia, apontando omissão dos gestores.

-Agressão de Augusto a um torcedor do Cruzeiro, em MG, com prejuízo a imagem da instituição.

No requerimento, conselheiros colocam o Corinthians como "vítima de crimes cometidos pelos próprios dirigentes" e ainda reforçam a intenção de se obter para o clube o devido "ressarcimento do prejuízo em razão do pagamento errôneo à malfadada empresa que nunca intermediou a confecção do contrato com a antiga patrocinadora".

INDICIAMENTO AUMENTOU PRESSÃO

A conclusão do inquérito do caso VaideBet aumentou a pressão sobre Augusto Melo. O presidente foi indiciado pela Polícia Civil de São Paulo por associação criminosa, furto qualificado e lavagem de dinheiro. Além dele, também foram indiciados o ex-superintendente de marketing Sérgio Moura, o ex-diretor istrativo Marcelo Mariano, além de Alex Fernando André, conhecido como Alex Cassundé, apontado no contrato entre clube e a casa de apostas como intermediador do acordo.

Cabe agora ao Ministério Público decidir se irá ou não apresentar a denúncia formal à Justiça. O promotor Juliano Atoji monitorou as investigações de perto e deve levar o caso adiante. Se a denúncia foi aceita por um juiz, Augusto Melo, Marcelo Mariano, Sérgio Moura e Alex Cassundé se tornarão réus em processo penal.

O contrato virou alvo de investigação policial após a descoberta de rees de receitas oriundas de pagamentos do Corinthians para a Rede Social Media Design LTDA, empresa de Cassundé. Posteriormente, parte destes valores foram transferidos para uma empresa 'laranja' e chegaram a uma conta vinculada ao crime organizado, conforme comprovou o relatório assinado pelo delegado Tiago Fernando Correia, do Departamento de Polícia de Proteção à Cidadania (DPPC), responsável pelo caso.

O documento ainda confirmou que Cassundé fez uma transferência de R$ 580 mil para a Neoway Soluções Integradas, a tal empresa fantasma, no dia 25 de março de 2024, mesma data em que, de acordo com dados telemáticos (ERB's) obtidos pela Polícia, Alex esteve presente no Parque São Jorge.

A intermediação deu à Rede Social Media Design LTDA o direito a receber 7% do valor total do acordo entre o clube e a VaideBet, o que, à época da vigência da parceria, renderia, ao fim do período de três anos, R$ 25,2 milhões para a empresa. A quantia deveria ser reada pelo clube em parcelas mensais de R$ 700 mil.

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