Quem foi ator morto em 2019 por Cupertino, condenado a 98 anos de prisão
Paulo Cupertino foi condenado a 98 anos pela morte de Rafael Miguel, 22, e os pais do ator — Mirian Silva e João Miguel — após dois dias de julgamento realizado no fórum criminal da Barra Funda, na zona oeste de São Paulo. Ele está preso desde 2022 e permaneceu três anos foragido após o crime.
Quem foi Rafael Miguel?
Ator foi destaque no remake de Chiquititas, exibido pelo SBT entre 2013 e 2015. Na estreia, ele tinha 17 anos. Na trama, ele interpretou Paçoca e contracenou com nomes como Giovanna Grigio, Gabriel Santana, Filipe Bragança, Guilherme Boury, Thaís Pacholek e Felipe Folgosi.
O jovem, no entanto, ficou famoso ainda criança quando gravou um comercial de TV no qual pedia à mãe que comprasse brócolis em um supermercado. Curiosamente detestava o vegetal. "Desde pequeno ele odiava brócolis. Depois que cresceu, começou a comer um pouco, mas não gostava nem de azeitona", lembrou Luciene Grisolio, ex-professora do ator, em entrevista ao UOL em 2019. "Era um menino adorável e um doce de pessoa"
Quando criança, também fez novelas da Globo, como "Pé na Jaca" (2006) e Cama de Gato (2009). Ainda participou de "Cristal" (2006), exibida pelo SBT. Nos cime,as fez "Meu Mundo em Perigo (2007) e "Xuxa e o Mistério de Feiurinha" (2009).
Fora da TV desde o fim de "Chiquititas", o plano de Rafael, que na época do assassinato trabalhava como professor de inglês, era se dedicar cada vez mais a espetáculos de stand-up. "Em novembro ele fez a primeira apresentação, estava dando os primeiros os. Ele disse: 'Vou dar o melhor de mim na minha volta ao palco'. Também tínhamos um projeto de fazer animações em hospital como fazem os Doutores da Alegria", contou a professora.
Rafael Miguel tinha duas irmãs, Camilla, de 26 anos, e Isabele, de 13. Na época em que o ator morreu, Camilla falou sobre a tragédia pelas redes sociais e agradeceu o apoio: "Agradeço imensamente cada uma das incontáveis mensagens de amor e acolhimento. Peço desculpas por não ter respondido a cada um dos amigos e reportagens que tentaram contato, mas estou em um momento de luto e assimilação de tudo que aconteceu, não consigo me pronunciar sobre justiça, nem como vamos seguir a vida".
Planos de morar com Isabela
Ele havia dito em sala de aula que tinha planos de morar com a namorada, Isabela Tibcherani, filha do assassino. A revelação foi dita por uma aluna do ex-ator. "Tivemos uma aula sobre planos para o futuro e ele me contou que queria fazer stand up. Ele também estava com planos de mais para frente mudar de país com a namorada e viver de stand up em inglês", contou Bianca Bianchi ao UOL em 2019.
Rafael dizia aos alunos que não gostava muito da exposição e do assédio da televisão e costumava falar bastante da namorada. "Ele sempre falou muito bem dela. Lembro que me perguntou sobre aluguel perto de onde eu moro porque ele queria se mudar com a namorada. Em todos os planos dele ela estava inclusa".
Tranquilo, o jovem também era contra o porte de armas e se posicionava contra uma das bandeiras de campanha do presidente Jair Bolsonaro (PSL). "Ele era contra armas de fogo e violência. Disse para mim que nunca tinha brigado na vida... "Era um jovem cheio de convicções, não concordava com o atual governo, não concordava com porte de armas e violência. Mas isso era uma coisa que ele convivia diariamente, pois ele morava em um bairro meio pesado de São Paulo. Ele não podia mudar o meio em que estava, mas estava esforçando pra mudar a sua realidade", completou a ex-aluna.
Condenação a 98 anos
Condenação foi lida na faixa das 20h após horas de julgamento. Os sete jurados — quatro homens e três mulheres — votaram a favor da condenação.
Paulo acompanhou o debate dos advogados, mas não ficou para ouvir a sentença.
Os familiares de Rafael comemoram e aplaudiram a decisão. Logo após o anúncio, apenas a família das vítimas permaneceu no plenário.
Os outros dois réus, Eduardo José Machado e Wanderley Antunes, acusados de terem ajudado na fuga do empresário, foram absolvidos.
O que diz o MP
Thiago Marin e Rogério Zagallo, promotores do MP, representaram a acusação. Durante interrogatório realizado ontem, Paulo Cupertino os desafiou a provarem que ele era o responsável pelos homicídios.
MP alega que Paulo tinha posse legal de arma do mesmo calibre utilizada para cometer o crime. Segundo eles, laudos apontam que a munição corresponde foi encontrada em escritório de Cupertino.
Por que uma testemunha precisaria fugir, buscar documentos falsos e contratar um advogado criminalista se não é culpado?
Rogério Zagallo, do MP
Irmão de Cupertino afirmou que Paulo apresentou motivo para matar a família. Joel Cupertino disse, em depoimento, que Paulo estava "no veneno" após o pais de Rafael Miguel terem incentivado Isabela Tibcherani a fazer um suposto teste como atriz para uma produção.
Joel 'sumiu' com imagens de câmera presente no local, segundo o MP. Pessoas próximas a ele afirmaram em depoimento que apenas Joel tinha o às imagens.
Acusação também mostrou conversas entre Paulo Cupertino e Wanderley Antunes via WhatsApp. Wanderley, assim como Eduardo Machado, são réus no mesmo processo acusados de colaborarem durante a fulga do suspeito de assassinato.