'Matemos os pobres e vamos para Marte': filme satiriza magnatas bilionários
Em um mundo onde a desigualdade social e o poder dos bilionários da tecnologia dominam debates, o novo filme "Mountainhead", que chega hoje à HBO Max, surge como uma sátira sombria e oportuna. Dirigido por Jesse Armstrong (criador de "Succession"), o longa acompanha um grupo de magnatas em um retiro luxuoso enquanto o planeta entra em colapso, mais ou menos como os grupos de Legendários que têm feito sucesso no Brasil.
Em entrevista a Splash, os atores Cory Michael Smith ("Saturday Night") e Ramy Youssef ("Pobres Criaturas") revelaram os desafios de filmar uma distopia que ecoa a realidade. O elenco conta também com Steve Carell ("The Office") e Jason Schwartzman.
Smith, que interpreta Venice Parrish — "o homem mais rico do mundo" —, itiu que as filmagens foram "incrivelmente confusas". "O filme tem alertas de notícias fictícios aparecendo nos celulares de cena. À noite, voltávamos para o hotel e víamos alertas reais. Cheguei a me perguntar: 'Isso é o celular de cena ou o meu?'", contou, destacando como o roteiro de Armstrong "não zomba da crise, mas da imprudência dos poderosos".
Já Youssef, que vive Jeff, um bilionário dividido entre a ética e o lucro, ressaltou a ambiguidade do personagem. "Ele sabe o custo humano da tecnologia, mas escolhe ignorar. Isso o torna ainda mais perigoso", explica o ator, que comentou também as cenas embaraçosas —marca registrada de Armstrong: "Não tenho problema em ser 'cringe'. É natural para mim", brincou. Smith completou: "É como se o personagem não percebesse o quão constrangedor é —e isso é genial".
Apesar do tom ácido, a improvisação foi mínima. "O texto de Jesse é tão perfeito que raramente precisávamos sair dele", disse Smith. Armstrong liberava somente poucos momentos para improvisar, e isso gerava um caos proposital.
Inspiração?
Quem assiste à "Mountainhead" percebe a "cutucada" aos famosos da tecnologia, como Elon Musk. No entanto, ao serem questionados, os atores afirmaram não terem se inspirado em alguma figura famosa. "Não precisei me basear em ninguém específico porque a escrita já era tão sólida e completa", disse Smith, que foi seguido por Youssef: "O ponto de partida e chegada foi sempre o roteiro. Está tudo lá."
O ator revelou uma abordagem surpreendente para construir o personagem. "Quando li o roteiro, me inspirei em mim mesmo aos 14 anos. Eu era tão irritante... e ainda sou", brincou. "A diferença é que agora aprendi a disfarçar. Para o Jeff, tirei todas essas camadas de proteção e voltei a ser aquele adolescente socialmente desajeitado".
Esses bilionários são emocionalmente atrofiados. Jeff tem todo o poder do mundo, mas a maturidade emocional de um adolescente. Foi como encontrar pedaços de mim que normalmente escondo e deixá-los tomar conta. Ramy Youssef
"Succession" vs. "Mountainhead"
Embora comparado à série "Succession", o filme se distingue pelo foco em "novos bilionários". "Em 'Succession', são herdeiros brigando por poder. Aqui, são nerds que ficaram ricos e se acham os donos do futuro", explicou Smith. Youssef acrescentou: "É uma alegoria do momento atual: bilionários da tecnologia acelerando crises enquanto ignoram o custo humano".
Youssef vê o filme como um reflexo da "desumanização da elite da tecnologia". "É literalmente: 'matemos os pobres e vamos para Marte'".
"Mountainhead" promete ser o retrato mais afiado (e perturbador) da era dos bilionários. Como resumiu Youssef: "Jesse Armstrong faz a gente rir de coisas que deveriam nos assustar. E é assim que a conversa começa".