Advogado compara músicas de Poze a filmes de Hollywood: 'Não é apologia'
O advogado do MC Poze do Rodo comparou as músicas do funkeiro a produções de Hollywood após ser questionado sobre o conteúdo das faixas.
O que aconteceu
Fernando Henrique Cardoso Neves negou que as faixas fazem apologia ao crime. "Não se trata de uma apologia ao criminoso, mas sim de liberdade de expressão e liberdade artística", disse, em entrevista ao Portal Leo Dias.
Afirmar [que as músicas de Poze fazem apologia ao crime] seria tão real quanto falar que o diretor de 'A Lista de Schindler' é uma pessoa nazista ou que o diretor de 'Bastardos Inglórios' apoia organizações criminosas que fazem tortura. Fernando Henrique Cardoso, advogado de Poze
Em nota a Splash, a defesa de Poze do Rodo diz que as acusações "não fazem sentido". "Nosso cliente foi surpreendido com um mandado de busca e apreensão e prisão temporária em sua casa hoje."
Negam-se todas as ilações feitas, posto que não há acusação formal, e que jamais poderia ser feita, já que peças artísticas não podem sequer serem cogitadas para averiguação de letras ou significados permitidos ou proibidos.
O pedido de liberdade do artista será feito até restabelecê-la, e posteriormente se demonstrará que as afirmações da investigação sobre o artista não fazem qualquer sentido.
A equipe do músico também disse que a prisão é uma "criminalização da arte periférica". "A acusação de associação ao tráfico e apologia ao crime não fazem o menor sentido, Poze é um artista que venceu na vida através de sua música".
Muitos músicos, atores e diretores têm peças artísticas que fazem relatos de situações que seriam crimes, mas nunca são processados, porque se tratam justamente de obras de ficção. A prisão do Poze, ou mesmo a prisão de qualquer MC nesse contexto é na realidade criminalização da arte periférica, uma perseguição, mais um episódio de racismo e preconceito institucional, a forma absurda que o Poze foi conduzido é a maior prova disso.
Poze é investigado por apologia ao crime
Artista foi detido no Recreio dos Bandeirantes, zona oeste do Rio de Janeiro, por policiais civis da Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE). De acordo com a polícia, as investigações apontam que o cantor realizava shows exclusivamente em áreas dominadas pelo CV. A "segurança" desses eventos era garantida pela presença ostensiva de traficantes com armamento de grosso calibre, como fuzis.
A operação tem como base o cumprimento de mandado de prisão temporária expedido pela Justiça, após evidências de que os shows realizados pelo artista são financiados pela organização criminosa Comando Vermelho, contribuindo para o fortalecimento financeiro da facção por meio do aumento do consumo de drogas nas comunidades onde os eventos são realizados. Polícia Civil, por meio de nota enviada a Splash
Um desses eventos foi realizado no dia 19 de maio deste ano, na comunidade da Cidade de Deus, com a presença de diversos traficantes armados. Segundo as investigações, o show ocorreu poucas horas antes da morte do policial civil José Antônio Lourenço, integrante da Coordenadoria de Recursos Especiais (Core), em uma operação policial na comunidade.
Repertório musical do cantor também está sob investigação, pois as letras fariam apologia ao tráfico de drogas, ao uso ilegal de armas de fogo e incitariam confrontos armados entre facções rivais.
A Polícia Civil reforça que as letras extrapolam os limites constitucionais da liberdade de expressão e artística, configurando crimes graves de apologia ao crime e associação para o tráfico de drogas. As investigações continuam para identificar outros envolvidos e os financiadores diretos dos eventos criminosos.
Ao deixar a delegacia, o funkeiro disse ser vítima de uma "perseguição". "Essa implicância comigo já é de muito tempo. [...] Isso é perseguição, é cara de pau. [...] Quem [eles] têm que pegar tá lá no morro, não sou eu", disse, em resposta a um repórter.